Do povo do deserto vêm as tradições que foram as bases para a maioria das crenças que existem e existiram no ocidente. Foi sob a crença no deus do deserto que foi desenvolvido a hierofania que até hoje molda nossas crenças. Hierofania é uma palavra que tem em sua etimologia o significado da manifestação reveladora do sagrado, e foi na visão que o povo tinha dos céus que o sagrado ganhou significado como o contato de deus com os homens. Para àqueles que viviam no deserto, os céus era o que definia a complexidade da vida e da morte, é nele que as estrelas, a noite, contam histórias sobre o tempo e sobre as estações do ano, que definia as plantações e colheitas que mantinham os ciclos da natureza e a sobrevivência do povo, é no céus, durante o dia, que o sol traz a vida e também castiga àqueles que subestimam sua força mortal sobre as areias do deserto. Ele dá a vida e ele a toma. É dos céus que caí a chuva que alimenta a terra e sua vegetação, enche os rios e traz abundância aos homens.
É nas constelações, durante a noite, que a complexidade do universo se manifesta, num infindável mar de outros sóis, cometas, planetas e corpos que ainda hoje são descobertos por nossos cientistas.
Foi em nome dos céus que a manifestação do eterno falava através de anjos e profetas, por muitos milênios, e foi em nome dos céus que um profeta em particular falou sobre o amor e sobre a tolerância.
Nem tudo em nossa tradição ocidental é baseado na hierofania celestial, partes do cremos vem de hierofanias ctônicas, das florestas, das águas, das plantas e de outros pontos de contato com o sagrado, mas é necessário que ao olharmos para o céus num fim de tarde, durante a preparação para o Ritual ao Sol, que tenhamos em mente que o firmamento em toda a sua grandeza manifesta a glória do contato que nossos ancestrais tiveram com o sagrado, e da grande dádiva que foi para nós o recebimento dessa herança bendita e milenar.
Os céus proclamam a glória de deus, e a união do homem com o sagrado, para todo o sempre.
Sim, o Deus dos Hebreus é um deus do deserto. Acho interessante lembrar que o bode “expiatório” deixado no deserto em oferta a Azazel (o anjo caido) para se alimentar com o pecado do povo Hebreu também habitava o deserto. Será que para os povos antigos o deserto seria a manifestação mateiral dos céus, tal qual o fala o adagio hermético: “Assim como é em cima é em baixo”?